As ilhas de São Tomé e Príncipe estiveram desabitadas até 1470, quando os navegadores portugueses João de Santarém e Pêro Escobar as descobriram.
A cana-de-açúcar foi introduzida nas ilhas no século XV, mas a concorrência brasileira e as constantes rebeliões locais levaram a cultura agrícola ao declínio no século XVII. Assim sendo, a decadência açucareira tornou as ilhas entrepostos de escravos para o Caribe e para o Brasil.
A colonização portuguesa do século XIX em São Tomé e Príncipe ocorreu após a perda do Brasil pelos portugueses. Nessa “reinstalação colonial”, os portugueses mantiveram até as duas primeiras décadas do século XX um sistema escravocrata de trabalho, valendo-se de uma mão-de-obra trazida principalmente de diferentes regiões da costa ocidental do continente africano, e passando progressivamente a utilizar apenas populações oriundas das suas outras colônias: Angola, Moçambique e Cabo Verde.
Depois da abolição da escravatura, os homens e mulheres levados para São Tomé e Príncipe passaram a trabalhar nas duas ilhas como contratados ou serviçais. Essa mão-de-obra e o sistema de Roças trouxeram uma organização agrícola específica, um sistema de contratação e de trabalho próprios e um legado de relações económicas e sociais que deixaram uma marca indelével na história do país.
As Roças aparecem como elemento intrínseco à cultura são-tomense da época colonial, constante no cotidiano dos seus moradores, e constitui uma fonte de inspiração para os artistas e escritores são-tomenses, mas também angolanos, cabo-verdianos e moçambicanos.
Além disso, o cacau e o sistema agro económico colonial em vigor vão-se tornar progressivamente o epicentro económico de São Tomé e Príncipe.
Vale lembrar que São Tomé e Príncipe foi qualificado como “colônia de plantação”, mas o nome até hoje mais comum para definir os latifúndios são-tomenses é a palavra “Roça”, utilizada localmente.
A Roça representa um vestígio do passado colonial de São Tomé e Príncipe. No entanto, o poder colonial ligado ao mundo das Roças e a atração dos seus elementos arquitetónicos, provocam ainda hoje visíveis impressões nos visitantes.
A Roça continua sendo vista pelo seu lado esplendoroso ou desumano, atrai e fascina como belo exemplo de arquitetura colonial, ou lembra o que foi considerado um dia o lado mais glorioso do império português.
Esse património histórico, por ironia do destino, acaba sendo por vezes um símbolo do orgulho Nacional, enquanto paradoxalmente o mundo das Roças é constantemente reavaliado e criticado.
As Roças tornaram-se uma matriz essencial da construção histórica Nacional, porque, além da sua imposição física, elas se inserem na história vivida pelos ilhéus e pelos migrantes. As Roças constituíam não só unidades de exploração económica, mas também referências organizacionais impostas no plano social e cultural, e nos domínios que envolviam todas as etapas marcantes das vidas dos trabalhadores.
Hoje as Roças representam o marco histórico mais relevante da história de São Tomé e Príncipe, que importa salvaguardar. Simbolizam a identidade do arquipélago, as estruturas funcionais que mais se tornaram notáveis, pela sua dimensão, imponência, e relevância urbanística e cultural. São verdadeiros “monumentos” que marcaram a história de São Tomé e Príncipe, representando não apenas o paradigma da sua arquitectura, mas também do próprio país e da sua própria cultura. São, sem dúvida, a memória e herança mais profunda do povo são-tomense.
As Roças tem hoje um papel fundamental no desenvolvimento de São Tomé e Príncipe, vamos recuperar e salvaguardar a história e identidade cultural de um Povo.